sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Grades


Vida de Katya

L.K

A reincidência na vida de Katya é apenas um detalhe, incômodo quando a cadeia é nova. Para quem chega, a vida é dificil. Surras + favores = rotina. Caso contrário, a cela é como uma kitinet cheia de gente. O problema são as grades que as impedem de ir e vir, além da perda de autonomia total. A hora de almoçar não é escolhida por elas. A hora de tomar banho também não. O passeio no pátio restringe-se a duas horas diárias. Desodorante, sabonete e esmalte, só quem tem família que traga. A Katya não tem ninguém, mas por ser querida por outras detentas, acaba ganhando. Cigarro, forte moeda de troca, é disputado. Fumo - espírito de coletividade= briga. Somando ou diminuindo, o resultado é sempre o mesmo: prisão.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Desfoque

Letícia Kapper

Preservar pessoas, identidades já denegridas pelo crime, pela falta de oportunidade. O desfoque de takes da ala masculina do Presídio Regional de Mafra foi imprescindível nesse filme para que a proposta não prejudicasse quem de uma maneira ou de outra contribuiu. Se eles pensam em preservar a imagem para não serem mais estigmatizados ainda e mudar de vida um dia, não se sabe ao certo. A maioria diz que sim e são essas pessoas que consideramos.






Agentes penitenciários alertam que nem todos pretendem se tornarem pessoas melhores depois de deixar a prisão. A vida do crime, principalmente quando se relaciona ao tráfico de drogas, é fácil e dá condições de manter uma família e ter conforto. R$1.000 por semana, se não mais. No fim das contas, é o dinheiro acompanhado de um vai e volta.

Falta de enfoque
O fato de desfocar as imagens remete a falta de enfoque. Nada mais lógico, aliás. Mas quando falo em falta de foco, falo da falta de ação daqueles que tem o poder na mão. Se houvesse mais empregos, mais educação, seria necessário desfoque? Nesse contexto, de quem é a falta de foco? Mais uma questão para refletir.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Questionamentos

L.K

Ver o roteiro final de um documetário na tela significa dizer muito e deixar de dizer outro tanto. O universo de Katya, da reincidência e de sua conseqüência direta, a superlotação, é imenso. Muitas pessoas, quase dez mil só em Santa Catarina, fazem parte dele.
Assim, usamos poucas, mas valiosas e exemplificadoras trajetórias para mostrar o que é não ter oportunidade na vida. Sem a pretensão de responder perguntas, o filme preocupa-se em questionar.

Empenho

L.K

A equipe Amarras se aproxima do fim da edição. A narrativa, guiada por seqüências de sonoras e ações, está dinâmica... encontramos o equilibrio. Marco Martins, na montagem, está prestes a passar a bola para Gustavo Monteiro, o Dog, que fará a finalização. Por enquanto, regulagem de áudio e mais análise de conteúdo. O resultado de tanto empenho está aparecendo. Espero, sinceramente, agradar e surpreender!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

BNegão e Amarras

L.K

O projeto Amarras começou bem e vai terminar melhor ainda. O Funcine, através do 3º Prêmio Funcine de Produção Audiovisual “Amando Carreirão”, deu o start para a iniciativa de quem vos escreve. Depois a Vinil Filmes, como co-produtora, organizou a viabilização da proposta que nasceu para sair do papel e circular. E como já disse, a expextativa é que o documentário realmente desperte questionamentos sobre o papel de cada um na sociedade. Para isso, nada melhor que um pingo de luz: Bernardo BNegão, ou somente BNegão.

O cantor, compositor e músico disse sim a parceria com o projeto. A trilha sonora será desse grande nome conhecido pela músicas de critica social latente mundo a fora. BNegão é um dos maiores rappers brasileiros e hoje, com a banda BNegão e Os Seletores de Freqüência, mistura rap, hardcore, dub e funk. As músicas escolhidas para o filme fazem parte de seu último CD, o “Enxugando o Gelo”. As músicas estão no MySpace Music e no site www.midiaindependente.org, na internet.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A vida vai e volta





Falar de reincidência é tão complexo quanto falar de religião e tão desesperançoso quanto pensar no fim dos conflitos impulsionados pela própria religião mundo a fora. Mesmo assim, tem gente que se arrisca a cutucar os dorminhocos e contar-lhes que todos estão no mesmo barco, os presos e os “livres”. O “Amarras” tem esse propósito. Como diz Bnegão, a vida vai e volta, como um bumerange.




Em fase de edição, discursos encontram-se e uma narrativa ganha corpo, aos poucos. Cada momento, palavra, corte é pensado e repensado. As histórias de Katya impressionam a equipe, que também observa o ser confuso que ela se transformou devido aos traumas sofrido ao longo da vida. Aguarde e verá.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Uma rosa


L.K

Pequenina, frágil e prestes a ser separada da mãe. Destino? A única coisa certa é o futuro incerto de Maria * (nome ficticio de um personagem real), de 6 meses. Sua mãe foi presa por tráfico de drogas, teve a menina no Presídio Regional de Mafra e agora teme a partida da pequena. Sem pai nem mãe, a jovem espera pela familia do marido que também está preso. Essa é a chance de Maria não passar parte de sua infância num orfanato. A beleza desse drama é aquela criança perfeita. Pele e olhos claros, cabelos escuros cacheados, pernas e braços rechonchudos e um serenidade quase incompreensível, tendo em vista o ambiente que cresceu, tomado de ressentimentos, condensandos pela fumaça de cigarro permanentemente no ar. Dela ganhei uma rosa vermelha.

Peso



L.K
A experiência numa prisão é pesada. O cheiro, assim como o desconforto, a sujeira, a miséria e a tristeza são sentidas como se tocassem fisicamente. Rever o que lá ficou me faz sentir tudo denovo. O choque se repete. O trauma também. Dias depois de voltar de Mafra, ainda em novembro do ano passado, assustava-me com muita facilidade. A vivência me deixou marcas profundas. Hoje, depois de horas selecionando cenas para o filme, as lembranças ganham força e penetram ainda mais no inconsciente. Bom para o trabalho!

Esperança ...




Letícia Kapper


Um novo ano e para mim tempo de pensar na questão da reincidência e suas conseqüências mais agressivas: a violência, a superlotação das unidades carcerárias pelo Brasil a fora e a ruina de histórias particulares, que transformam nosso mundo num mundo pior, mas não sem esperança.
Decupando a entrevista de Katya, já nos primeiros dias do ano, tive a certeza que esse é o sentimento que mora no coração de todos. Ela diz: “Eu creio muito em Deus. Sei que ainda vou ter uma casa.”
O fato é que ela depende da caridade das pessoas para isso se concretize. Perdida entre valores e conceitos, a jovem sonha com uma família, mas não tem idéia de como fazer isso. Eis a questão! Como mudar? Transformações internas são possíveis nesse contexto? São suficientes? São muitas as perguntas de respostas pulverizadas no espaço, se que é que existentes.